Tem que ser muito ingênuo para acreditar nessas promessas do bluesky. São claríssimos os passos em direção à bostificação. Coisa de quem acrditava no don’t be evil do google.
Mas confesso que também fui ingênuo: achei que ia demorar um pouco mais, que iam tentar ter uma base maior antes de fazerem movimentos tão claros.
Não tem como viver de caridade. O site já não tem anúncios e nem outras formas de arrecadar dinheiro, a não ser investimentos, que acabarão logo se não rentabilizarem.
Wikipedia vive de caridade (doações) e está no ar até hoje. GNU também, Free Software Foundation, KDE, Scratch Foundation (a responsável pelo Scratch, um VPL para ensinar programação à crianças), Linux Foundation e W3C (embora também tenham parcerias, uma das formas de arrecadação é pela doação), Signal Messenger… Há muitos exemplos de serviços digitais que vivem da caridade, sem anúncios, sem serviços por assinatura. “Free as in free beer”.
Cara, você está falando de serviços úteis e que se não fazem campanhas ATIVAS de doações e até invasivas em alguns pontos, não recebem doações. Estamos falando de uma rede social, coisa que precisa arrecadar dinheiro de alguma forma… As opções do mercado são entupir de anúncios, o que vai contra os princípios deles, e colocar uma assinatura para ganhar dinheiro, que o que estão fazendo.
Infelizmente, a internet não vive de caridade. Nem aqui vive…
Note que um dos exemplos citados no meu comentário é o Signal Messenger, um mensageiro instantâneo (o mais próximo de uma “rede social”, inclusive porque permite grupos). Nesse modelo, há também o Simplex, que surgiu como alternativa ao Telegram.
Além disso, quando eu disse que “há muitos exemplos de serviços digitais que vivem da caridade, sem anúncios, sem serviços por assinatura”, eu não disse que necessariamente não há campanhas de pedido de doação, porque é lógico que existem campanhas para arrecadação. Por “anúncios” me refiro ao tipo dominante de publicidade na internet, oferecido por Google Ads ou similares. Wikipedia frequentemente mostra um grande banner pedindo doação, algo que é infinitamente melhor do que esses anúncios que encontramos em sites e plataformas.
Vale também ressaltar que a definição de “serviço útil” vai depender de quem está sendo atendido. Por exemplo: pra mim, LLMs são um serviço útil, mas muita gente odeia LLMs. Pra mim, o OEIS é um serviço útil para encontrar sequências matemáticas, mas a maioria das pessoas (aquelas do tipo “por que vou aprender Bháskara se não vou usar isso?”) sequer sabe o que é sequência matemática, quiçá “OEIS”, portanto, pra estas, OEIS não é um “serviço útil”. O Signal e o SimpleX são “serviços úteis” àqueles que buscam mensageria instantânea que respeite a privacidade.
Por fim, o modelo donation-based não exige tipos específicos de serviço. A “lei da oferta e demanda” meio que também se aplica aqui: enquanto existem pessoas interessadas naquele serviço, haverá doação para manter aquilo funcionando. A diferença para o capitalismo é que esse pagamento é voluntário e não vem atrelado à venda do usuário (dados pessoais e telemetria) como produto para patrocinadores. É a essência do voluntário: usa quem quer, colabora quem quer, paga quem quer, e aqueles que pagam, pagam mesmo sabendo que eles mantém o serviço para aqueles que não pagam. É quase como uma reforma condominial ou de uma vizinhança, onde alguns vizinhos pagam para melhoria inclusive por outros que não podem ou não querem pagar.
A Internet pode viver de caridade sim. Capitalismo não é o único modelo na face da Terra.