Porquê a prova do Enem (e semelhantes) não pode ser feita com caneta vermelha? Há um motivo real?

Já ouvi explicações bizarras, pra várias provas:

“-Não faça essa prova de caneta vermelha porque na ‘hora de ler’ ela o dispositivo não conseguirá ler,” (que dispositivo ultrapassado e datado seria esse se é que há?:thinking:)

-“Caneta vermelha é para corrigir”

Ok, qual lei ou onde está escrito que canetas vermelhas são apenas para correção?

“-Prova é um documento, não se assina documento com caneta vermelha”

A pergunta continua sendo a mesma…

Pior ainda é quando se impede também o uso da caneta preta, qual a razão disso??

Enfim, meu objetivo é saber se de fato há alguma razão plausível para isso ou se tal proibição é apenas porque um bando de editores se levantaram e decidiram que seria assim e pronto…

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Com relação à caneta vermelha, acredito que seja por causa disso:

Tudo bem que talvez esse meu exemplo em específico não seja um bom exemplo, porque minha caneta vermelha secou (por isso que só escrevi “Ve” ao invés de “Vermelho”).

Mas note como o vermelho, quando visto de forma monocromática (convertido pra escala de cinza), tem uma visibilidade menor (luminância maior) que o azul.

Mesmo quando consideramos o mais puro azul e o mais puro vermelho, há uma diferença de luminância quando são convertidos, por exemplo, para um espaço YUV/YCbCr/YPbPr (um Y menor significa menor luminância, que significa mais escuro/mais preto):


O fundo do papel (isto é, a cor de fundo do gabarito, por exemplo) também tem sua luminância, e a relação entre essas duas luminâncias (plano de fundo do papel e marcação da caneta) gera o que chamamos de “contraste”: quanto menor a diferença, menor o contraste. O papel geralmente é “branco”, mas não é um branco absoluto. Esse papel, mesmo, do meu exemplo (uma folha de caderno escolar), não é #FFFFFF, sendo na verdade um cinza prateado, levemente puxado pro vermelho (embora tenho uma cortina vermelha no quarto e talvez esses 2 níveis a mais de vermelho sejam resquícios de reflexão da cortina no papel):

O que nos leva a nos questionarmos o seguinte: por que não aceitam caneta preta? Afinal, a caneta preta seria ainda melhor que a caneta azul, com uma luminância mais próxima possível do zero e, portanto, maior contraste possível.

Muitos vestibulares e testes dos quais já participei (já fui em Olimpíada de Matemática e de Física, por exemplo) especificavam “caneta azul ou preta”. Só ENEM parece recusar caneta preta.

Talvez a restrição do Enem seja para “uniformizar” as canetas, botar todo mundo numa mesma caixinha. Única explicação plausível para uma exigência dessa, de só aceitar caneta azul mas não aceitar caneta preta.

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Alguns detalhes adicionais e pequenas correções do que falei anteriormente. Vou botar numa “sanfona” para não poluir o tópico.

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O cinza pode ser branco

Falei que o papel é na verdade cinza, mas isso vai depender da iluminação que incide sobre ele. Em scanners, o fundo do papel pode chegar ao branco digital absoluto (#FFFFFF) com a luz do scanner incidindo sobre ele, mas o nível de luminosidade influencia nos demais elementos, como a marcação de caneta: se o brilho for muito, pode estourar o brilho da caneta, aumentando sua luminância (componente Y) e, portanto, reduzindo contraste.

Química é uma ciência exata, mas não é exata

Cada caneta tem uma composição diferente: o azul da Bic é diferente do azul da Compactor, porque a Bic usa uma composição para a tinta e a Compactor usa outra, e mesmo canetas da mesma marca vão ter diferenças porque a composição química dificilmente consegue ser exata e milimétrica em processos industriais (como a fabricação de canetas).

Essas duas coisas vão gerar diferenças, ainda que sutis, de luminância na marcação das canetas. Porém, exames como o ENEM (que é estatal) não podem forçar uma marca em específico (“só canetas Bic”) porque isso poderia gerar dúvidas quanto à isenção do exame.

Calibragem

Entra ali outro fator: calibragem do scanner. Calibram o scanner para antecipar as diferenças entre as várias marcas de canetas (e diferenças mínimas da composição química de uma mesma marca).

E por que a calibragem? Por causa do contraste que mencionei anteriormente. Um OCR (Optical Character Recognition) precisa distinguir entre duas áreas: onde está marcado vs onde não está marcado. Por isso o fator do “monocromático” ali: converte-se os três canais de cores (RGB) em um só (Luma/Y) para que alimente o algoritmo de OCR, que vai fazer a quantização (em português: “até certo nível de cinza, é zero/desmarcado, a partir disso, é um/marcado”) e segmentação das áreas congruentes (isto é: quais áreas próximas estão marcadas, e quais áreas próximas estão desmarcadas, o que envolve aplicações técnicas como convolução matricial).

Hoje em dia tem as IAs (Visual Models) mas elas frequentemente alucinam (basta ver Grok, ChatGPT, Gemini e afins, quando interpretam imagens), e a visão computacional sobre um gabarito precisa ser a mais exata e precisa possível, então certamente não usam modelos visuais para tal. O que nos leva à seguinte citação sua:

Antiquado? É mesmo, podemos chamar assim, sim, mas imagina se a IA alucinasse uma marcação que não foi feita? Por isso usam algoritmos “consolidados” de OCR, que envolvem algoritmos meticulosamente arquitetados para quantizar gabaritos , por isso também aqueles “quadradinhos” nas beiradas do gabarito (que servem pra alinhar um objeto do mundo real, a folha, em uma “malha” virtual, mas também dão uma referência para o nivelamento da luminosidade):

Caneta preta… ou lápis?

Depois que fiz a postagem anterior, eu pesquisei sobre esse lance da caneta preta. Acontece que a caneta preta, ao olho nu, pode parecer uma marcação à lápis, e lápis é obviamente proibido (porque pode ser apagado, ou o candidato poderia alegar que a resposta original foi apagada). Há uma inspeção visual superficial, onde um ser humano olha a folha a fim de identificar possíveis rasuras, e essa inspeção vai também observar se foi feito à caneta: se não foi, nem vão passar pro scanner, vão logo reprovar aquele gabarito.

Não sei por que tem exames que permitem (como vestibular), mas talvez seja pela quantidade: menos candidatos, menos gabaritos pra inspecionar, então dá pra inspecionar melhor se é lápis ou caneta. ENEM tem muito candidato (milhões), e quanto menos tempo eles gastam com os gabaritos, mais rápido lançam os milhões de resultados no sistema.

Aparece que vc está meio desatualizado rs

Antes era azul ou preta. Desde de 2019 só preta.

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2019, relativamente recente vamos pôr assim, porque eu lembro traumaticamente do COVID-19 “como se fosse ontem”, em partes é a idade chegando pra mim, eu tô é bem velho já hahah

Mas confesso que falei sobre a recusa da caneta preta com base no que o João Vitor falou:

…e também com base em notícias/propagandas que já vi versando sobre concursos, onde realmente só admite-se caneta azul. Mas talvez essas notícias/propagandas igualmente façam muito tempo desde que as vi. Faz bastente tempo que não faço vestibular, concursos ou exames.

Mas, enfim, creio que a parte que falo sobre luminância seja o embasamento técnico por trás da proibição de caneta vermelha.

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Eu imagino que seja uma mistura de

com uma certa inércia institucional.

Por que o dispositivo talvez não consiga ler? Em parte por que os primeiros LEDs inventados eram vermelhos…aí já viu né.

Prestei um concurso uns dois anos atrás e só admitia-se caneta preta. Fiz a prova com caneta azul (eu geralmente levo uma de cada só por garantia, mas dessa vez confundi as bolas e levei duas azuis) e tive a prova corrigida normalmente.

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Além dos pontos citados acima, é importante lembrar que existem vários tons de vermelho e vários tons de azul, mas teoricamente não existem tons de preto.

Se a caneta tinha um azul mais escuro, provavelmente não teria problema para ser lida pelos aparelhos que identificam os gabaritos, mas se fosse um azul mais claro talvez sua nota seria zerada.

Pera a

O que é isso??

Você está me dizendo que a prova é corrida sendo todas escaneadas e jogadas em um “sistema” que coloca um “gabarito digital” por cima e faz um “jogo de erros?”

Mas que “dispositivo” seria esse?

???

Sim, exatamente isso.
Os gabaritos não são conferidos por humanos, eles são verificados por uma máquina.

Imagine que para as provas do ENEM existe uma máquina parecida com essa que confere as provas, para concursos também existem máquinas que fazem a leitura dos gabaritos.

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SIm, porque são milhões de gabaritos, seria humanamente complicado corrigir uma por uma sem o auxílio de aparatos eletrônicos, sendo que só a redação é corrigida por humanos porque envolve um fator humano (interpretação de texto, semiótica, etc), além da escrita à mão que muda de pessoa pra pessoa.

A correção eletrônica do gabarito, no entanto, provavelmente tem uma margem de erro muito baixa (e parte do segredo está na rigidez de todo processo, desde as regras e protocolos aplicados aos estudantes até às regras internas de logística e correção, passando pela rigidez do algoritmo de correção). O gabarito é quase como um “cartão perfurado” preenchido não com furos, mas com tinta de caneta. As opções marcadas convertem-se em um formato digital que então é comparado a um resultado.

O OCR (Optical Character Recognition) é apenas parte do processo, interpretando as marcações do gabarito da forma mais precisa possível.

Para ser preciso e mais livre de erros possível, provavelmente a tecnologia por trás é antiga, porque tecnologias novas poderiam adicionar falhas ao processo. É similar, por exemplo, ao que ocorre na aviação: não se moderniza porque há um risco impossível de ser descartado. No caso da aviação, o risco do avião cair. No caso de uma correção de gabarito de prova nacional, um risco mais social, acadêmico e judicial.

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A máquina que lê as respostas? Essas coisas existem há muito tempo

Inclusive qualquer faculdade usa isso faz tempo