Deezer revela que recebe 20 mil músicas geradas por IA diariamente

Se o número está aumentando… talvez o tal filtro não esteja sendo muito eficiência para inibir a tentativa dos caras que estão tentanto enviar essas músicas :thinking:

Essas plataformas têm algoritmo pra detectar se a música é “gerada por IA” e, assim, recusá-la. Mas o que dizer de geração procedural, que é “como se fosse uma IA”, porém, não “aprende” e, portanto, não foi “treinada” em conteúdos existentes?

Eu mesmo já gerei conteúdo por algoritmos procedurais, inclusive música. Fiz um dia desses um projetinho Web que usa um algoritmo de ruído Simplex/Perlin como base de cálculo para as tonalidades de notas musicais, pela qual o programa vai caminhar aleatoriamente (movimento browniano) e, definido para uma escala de tempo 4/4, esse algoritmo pode rodar indefinidamente gerando e tocando uma melodia infinita que, bom, eu particularmente curti.

Ao invés de uma saída de ondas senoidais direto para o WebAudio, eu tenho também possibilidade de usar o WebMIDI e interfacear, por exemplo, um FL Studio ou um LMMS.

Perceba que em nenhum momento (nem no texto nem no print do código-fonte) citei o uso de outras músicas como base: o programa gera um som completamente baseado no “caos ordenado” (aleatório + cálculos matemáticos + padrões definidos manualmente por mim, como a escala 4/4).

Um algoritmo detector de IA, porém, com certeza detectaria isso como “IA”.

Isso sem contar que uma produção gerada por IA não precisa ser usada ipsis literis: da mesma forma que eu posso gerar uma imagem pelo Stable Diffusion e depois desenhá-la à mão, eu posso gerar alguns samples através desses modelos generativos de música disponíveis por aí, e então misturar no meio de samples feitos por mim mesmo e eis uma música. Ou posso gerar melodias através desse código meu acima, e usar como base de uma produção musical. Todos exemplos de arte híbrida: parte algoritmo, parte humano.

E com esses dois pontos temos um problema, porque obras “legítimas” muitas vezes usam algoritmos procedurais e aleatoriedade como inspiração ou base. Se não me engano, por exemplo, Deadmau5 usa, e outros DJs famosos também. Até não-DJs e/ou artistas fora da música eletrônica já usaram, como bandas de rock e de metal.

Resumo: é uma péssima direção, ao meu ver, tentar detectar se um conteúdo é IA ou não, em um mundo (música) onde algoritmos generativos (que não são “modelos” que “aprenderam”, como aquilo que conhecemos por “IA”) estão presentes, porque muita obra legítima poderá acabar sendo barrada, enquanto muita obra por IA, se bem planejada (que exige várias tentativas, várias iterações, várias amostras misturadas, etc), é capaz de enganar até o mais sensível dos audiófilos.