Cientistas criam interface VR que permite provar "comida digital"

Sim, caro leitor. Você sabe onde essa tecnologia vai chegar. Todos nós sabemos.

A visão, audição e (até certo nível) o tato podem ser enganados porque envolvem ou estímulo eletromagnético (cones sensíveis a três faixas diferentes do espectro: emita frequências sobrepostas e você conseguirá emular uma percepção de cor quase que indistinguível de uma fonte natural, por exemplo, o amarelo/alaranjado de um LED vs o amarelo/alaranjado de uma lâmpada incandescente/de sódio) ou estímulo cinético/mecânico (crie/sobreponha vibrações em frequências específicas e obtenha perceções auditivas/táteis que são indistinguíveis de um estímulo real)… Todos estes, energia, que pode ser “criada” (transformada) a partir da eletricidade (exemplo: energia elética circulando por um semicondutor que induz uma onda eletromagnética no espectro visível; energia elétrica circulando por uma bobina em volta de um imã, induzindo um campo eletromagnético que vai repelir ou atrair o imã, transformando em energia cinética e assim, vibrando).

…mas o paladar e olfato envolvem interação molecular. Matéria que não pode ser “criada” a partir de eletricidade. E interação molecular, até onde eu sei sobre biologia e química, não tem como simplificar para cinco “caixinhas químicas”.

Em outras palavras, toda glicose é doce, mas nem todo doce é glicose. Todo cloreto de sódio é salgado, mas nem todo salgado é cloreto de sódio. Todo ácido cítrico é azedo, mas nem todo azedo é ácido cítrico…

Tanto é que, por exemplo, esses “aromatizantes sintéticos idênticos ao natural” muitas vezes sequer têm esses “cinco elementos”.

Além disso, o sabor também depende da temperatura e textura, algo que definitivamente isso aí não tem como simular. (Ex.: o café frio não tem o mesmo sabor que o café quente, ainda que seja o mesmo café; podemos alegar que houve oxidação e redução e que isso afetou as moléculas que vão entrar em contato com o paladar, sim, mas em grande parte a percepção diferente de sabor entre ambos deve-se à temperatura).

Talvez, talvez, se estimulassem elétrica e diretamente os nervos da língua, seria mais preciso em emular a percepção de sabores, bem como seria algo que não precisaria de refis de líquidos. Mas botar eletrodo na língua, e talvez até necessariamente em outras partes da cavidade oral e nasal (céu da boca também tem um pouco de papilas gustativas) não seria uma tarefa simples.

Vale ressaltar, inclusive, que aquele “mapa da língua” que muitas vezes aprendemos, é incorreto (tradução minha):

O mapa da língua ou mapa palativo é um equívoco comumente difundido de que diferentes seções da língua são exclusivamente responsáveis por diferentes sabores básicos. É ilustrado com um mapa esquemático da língua, com certas partes rotuladas para cada sabor. O conceito é ensinado em algumas escolas, mas é incorreto; cada sensação de sabor pode vir de todas as regiões da língua, embora certas partes sejam mais sensíveis a certos sabores.

Em suma, o ser humano ainda tem bastante a descobrir do seu próprio organismo a ponto de conseguir submergir totalmente (em todos os sentidos físicos, que são mais de cinco) a consciência em uma realidade simulada. Isso envolveria não só imagem e som (que já emulamos com certa maestria), mas também tato (em partes coberto por atuadores hápticos e táteis como as telas de braille, mas eles não simulam dor ou cócegas, às vezes porcamente a sensação de quente ou frio mas com certa latência já que envolve condutividade térmica para resfriar/esquentar), paladar, olfato, propriopercepção (que é algo que faz falta demais no campo do VR), entre outros.

È uma tentativa, válida até, mas ao meu ver, paladar é mais complexo que simplesmente botar gotas de líquidos específicos na língua.

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Excelente ponto de vista !

E a VR tem que ser simples, não precisa simular avançado, tanto que nos anos 90 tinha um monte de capacete, geringonças para criar VR, eu cheguei a testar e era meia boca.

E veio o Wii em 2006 e levou a VR para um patamar de jogabilidade extrema, diversão garantida, com elementos extremamente simples.

Também acho que só vão simular paladar e olfato no dia que conseguirem com precisão estimular o corpo humano onde se interpreta o odor e o sabor.

E mesmo que conseguissem agora, quem quer isso ?

Tato já quase não precisa, cheiro e gosto são bem dispensáveis. Ok, incrível entrar na mata amazonica em GREEN HELL e sentir o cheiro da mata, o odor da carniça do animal morto, mas precisa dessa imersão toda ? Tu come algo estragado no jogo e vem o gosto amargo na tua boca ???

Pois é. Me lembrou o filme Brainstorm onde estavam desenvolvendo um aparato para gravar e reproduzir experiências sensoriais humanas e, durante o desenvolvimento, um dos pesquisadores falece de um ataque cardíaco que foi gravado e, ao ser reproduzido de volta, provoca a mesma experiência do ataque cardíaco (EQM). O responsável pelo projeto então decide tomar um rumo militar para o aparato, que passava a ser capaz de reproduzir tanto experiências prazerosas quanto experiências desagradáveis e literalmente torturantes.

É de se esperar algo similar tomaria fins militares se fosse feito na “vida real”. Se não totalmente militares, bem próximo disso. Já pensou, plataformas de anúncios injetando dor neurológica em quem não prestar atenção na propaganda que está sendo veiculada em seus VRs? Ou sobrecarregar todos os sentidos com estímulos que vão “adestrar” o ser humano a “colaborar”. O ser humano tem instintos animais, e assim tendo, possui o “aprendizado pelo reforço negativo”, e o principal mecanismo disso são os sentidos que permitem à percepção da dor.

É surreal pensar que isso pode se tornar possível, se é que já não desenvolveram e estão esperando pra revelar. Proibir esse tipo de pesquisa é impossível, porque os próprios governos são parte dos interessados por invenções do tipo (fins militares) além das corporações (fins corporativo-militares).